É possível identificar protagonistas femininas em diferentes tempos e espaços históricos. O vasto e complexo período conhecido como A Idade Média é, frequentemente, retratada como uma era dominada por homens. Nesse contexto, a presença feminina na construção do pensamento erudito era quase inexistente. No entanto, essa visão, embora difundida, não reflete a realidade histórica em sua totalidade. É isso o que mostra a obra “Mulheres intelectuais na Idade Média“, de Marcos Roberto N. Costa e e Rafael Ferreira Costa. Os autores levantaram a história de diversas mulheres que desafiaram seu tempo e foram protagonistas do seu tempo. Assim, este artigo destaca três dessas mulheres notáveis: uma filósofa, uma médica e uma escritora, que desafiaram as convenções de seu tempo e produziram obras que ecoam até hoje.

 

Entretanto, apesar de todas as evidências, se vasculharmos a  construção do Pensamento Ocidental veremos que as mulheres  sempre estiveram presentes, contribuindo indireta ou diretamente, seja como sujeito passivo ou ativo desta história. E até é possível identificar a presença de algumas delas já nos tempos remotos, na Filosofia Clássica Antiga, por exemplo, passando pela Antiguidade Tardia, pela Patrística (ou Alta Idade Média), pela Escolástica (ou Baixa Idade Média), até alcançarmos o Renascimento.

Marcos Roberto N. Costa e e Rafael Ferreira Costa.

Hipátia de Alexandria: A Luz da Filosofia e da Ciência

Hipátia de Alexandria – Gravura de Elbert Hubbard, 1908. Fonte: Wikipedia

Hipátia de Alexandria nasceu em em 370 d.C., em Alexandria, Egito. Ela era filha do renomado Teão, diretor do Museu de Alexandria. Sob a influência de seu pai, recebeu uma educação esmerada em arte, ciência, literatura, filosofia, oratória e retórica, demonstrando desde cedo um intelecto brilhante.  Hipátia viajou para Atenas, onde aprofundou seus estudos em filosofia na Academia Neoplatônica. Então, ao retornar a Alexandria, tornou-se professora e, posteriormente, diretora da Academia, um feito notável para uma mulher na época. Seus ensinamentos buscavam unificar a matemática de Diofanto com o Neoplatonismo, aplicando o raciocínio matemático ao conceito do Uno.    

Além de sua erudição, Hipátia era conhecida por sua beleza, eloquência e castidade, atraindo a admiração e o respeito de muitos. No entanto, sua vida foi tragicamente interrompida em 415 d.C., quando foi brutalmente assassinada por fanáticos religiosos, em um contexto de crescente tensão entre o paganismo e o cristianismo.  Apesar do trágico fim, Hipátia imortalizou-se na história como um símbolo de sabedoria e erudição, sendo lembrada como uma das maiores intelectuais de seu tempo.    

Trotula di Ruggiero: A Medicina no Feminino

No campo da medicina, Trotula di Ruggiero foi uma figura ímpar. Atuando na Escola de Medicina de Salerno, no século XI, ela desafiou as convenções ao se especializar em ginecologia, obstetrícia e puerpério, áreas consideradas “doenças femininas” na época. Portanto, Trotula compreendia as particularidades do corpo feminino e a importância de oferecer um atendimento mais humanizado e respeitoso às pacientes. Sua obra escrita, reunida no compêndio “O Trotula”, abordava desde a menstruação e a concepção até o parto e o pós-parto, com conselhos práticos e inovadores para a época.

Além de sua prática médica, Trotula di Ruggiero contribuiu para a reflexão filosófica sobre o corpo feminino, buscando compreender a intrínseca relação entre a saúde, a beleza e a harmonia do corpo com o universo.  Apesar de sua relevância, a figura de Trotula foi alvo de controvérsias ao longo dos séculos, com sua existência e autoria sendo questionadas e até mesmo negadas. No entanto, estudos recentes têm resgatado sua importância e legado para a história da medicina.

Roswita von Gandersheim: A Voz Teatral da Fé

No campo da literatura, Roswita von Gandersheim, que viveu por volta do ano 935, destacou-se como a primeira poetisa de origem germânica na Idade Média. Freira no mosteiro de Gandersheim, teve acesso a uma vasta biblioteca, o que lhe permitiu desenvolver uma produção literária diversificada e erudita.

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