Mulheres nos espaços literários no Segundo Reinado

Em 2022, o protagonismo das mulheres nos espaços literários, durante o Segundo Reinado, foi questão no Enem. Vamos analisar juntas a questão e suas alternativas?

O número cada vez maior de mulheres letradas e interessadas pela literatura e pelas novelas, muitas divulgadas em capítulos, seções, classificadas comumente como folhetim, alçou a um gênero de ficção corrente já em 1840, fazendo parte do florescimento da literatura nacional brasileira, instigando a formação e a ampliação de um público leitor feminino, ávido por novidades, pelo apelo dos folhetins e “narrativas modernas” que encenavam “os dramas e os conflitos de uma mulher em processo de transformação patriarcal e provinciana que, progressivamente, começava a se abrir para modernizar seus costumes”. No Segundo Reinado, as mulheres foram se tornando público determinante na construção da literatura e da imprensa nacional. E não apenas público, porquanto crescerá o número de escritoras que colaboram para isso e emergirá uma imprensa feminina, editada, escrita e dirigida por e para mulheres.

ABRANTES, A. Do álbum de família à vitrine impressa: trajetos de retratos (PB, 1920), Revista Temas em Educação, n. 24, 2015 (adaptado).

a) surgimento de novas práticas culturais.

b) contestação de antigos hábitos masculinos.

c) valorização de recentes publicações juvenis.

d) circulação de variados manuais pedagógicos.

e) aparecimento de diversas editoras comerciais.

Mulheres e protagonismo cultural no século XIX

 

A letra “A” é a alternativa correta.

Dessa forma, a questão procura destacar o crescente papel das mulheres como leitoras e escritoras durante o Segundo Reinado. A conquista feminina em espaços intelectuais, a exemplo da impressa, representou uma mudança significativa nos costumes da época, configurando o surgimento de novas práticas culturais. neste sentido, a literatura, antes dominada por homens, passou a contar com a voz e a perspectiva feminina, ampliando o leque de temas e estilos. Além disso, a imprensa feminina, editada e dirigida por mulheres, criou um espaço de expressão e debate sobre questões relevantes para o público feminino.

 

As alternativas incorretas:

(b) contestação de antigos hábitos masculinos: O texto não enfatiza essa contestação como o principal aspecto da mudança, embora a inserção feminina nesses espaços possa ter, indiretamente, desafiado alguns costumes masculinos. Portanto, o foco da questão está na criação de novas práticas culturais, não na oposição direta aos hábitos masculinos.

(c) valorização de recentes publicações juvenis: A aboradagem dá ênfase na participação feminina na literatura e na imprensa em geral, sem distinção de faixa etária. Desta maneira, o texto não menciona especificamente a valorização de publicações juvenis. 

(d) circulação de variados manuais pedagógicos: A questão coloca em evidência a produção e o consumo de livros e impressos, não na educação formal. Então, a questão não aborda a circulação de manuais pedagógicos. 

(e) aparecimento de diversas editoras comerciais: O texto não destaca o surgimento de editoras como o principal elemento associado a essa mudança, embora seja possível uma relação entre o crescimento do mercado editorial e uma maior participação feminina. Sendo assim, a questão desdobra sobre as novas práticas culturais que emergiram com a presença feminina na literatura e na imprensa.

“O sexo feminino”

A título de exemplo, vale à pena conhecer uma mulher de atuação fundamental. Francisca Senhorinha da Motta Diniz é um exemplo de mulher que assumiu o protagonismo. Seu jornal, “O Sexo Feminino” circulou entre os anos 1873-1875. Dentre os temas aboradados na publicação, destacam-se a educação feminina, a luta por direitos civis e políticos para as mulheres e a crítica aos costumes patriarcais da época. Em simultâneo, um dos pontos nevrálgicos no discurso da redatora estava a necessidade da instrução feminina como ferramenta para a emancipação e a conquista de uma posição mais igualitária na sociedade.

Trecho de Senhorinha Diniz

Aquele período foi marcado pela rapidez com que jornais surgiam e deixavam de ser publicados. Portanto, apesar de sua curta duração, “O Sexo Feminino” abriu caminho para futuras gerações de mulheres que lutariam por seus direitos e por uma sociedade mais justa e igualitária. Por meio de suas publicações, Francisca Diniz desafiou o lugar comum de seu tempo e se tornou uma figura inspiradora. 

Publicação de 7 de setembro de 1873.

Neste link, é possível acessar os números do jornal.

Mulheres e transformação cultural

Ao contrário do que costumeiramente se diz, as mulheres não foram inseridas no mundo literato. Durante todo o século XIX, as mulheres intelectuais se posicionaram para ocupar tais espaços de cultura. A despeito da resistência masculina, mulheres como Senhorinha Diniz conseguiram expressar seus pensamentos por meio da imprensa. Desta forma, mulheres ocupando lugares sociais de leitura e escrita, no Segundo Reinado, representaram forças de transformação cultural e a ampliação do espaço de expressão feminina. Assim, essa presença não se limitou a contestar os costumes masculinos ou a valorizar publicações específicas. Ao mesmo tempo, significou criar um novo cenário cultural, mais diverso e representativo, embora esses termos não estivesse presentes no calor daquela hora.

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