Mulheres e a Cidade: Desvendando os Espaços de Sobrevivência em São Paulo Colonial

JEAN-BAPTISTE DEBRET: Negra tatuada vendendo caju, 1827

Introdução:

O vestibular da UNESP de 2024 trouxe à tona uma questão crucial sobre a história das mulheres e a cidade no Brasil colonial. Atualmente, a historiografia tem se debruçado sobre a história das mulheres considerando inúmeras especificidades, quais sejam classe e raça. Por isso, podemos ver cada vez mais, mesmo que de forma incipiente, uma abordagem em torno do tema nos livros didáticos, nas salas de aulas e em questões de vestibular e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). 

Nesta direção, as abordagens enfatizam as lutas femininas contra o patriarcado e o protagonismo das mulheres em defesa de melhores condições de vida e direitos. 

Ao analisar o texto de Maria Odila Leite da Silva Dias, podemos aprofundar nossa compreensão sobre a vida das mulheres pobres, livres, forras e escravizadas em São Paulo do século XVIII. Neste post, vamos compreender melhor a alternativa correta e explorar as nuances da condição feminina nesse contexto histórico.

A questão: Mulheres e a cidade

Unesp (2024)

O espaço urbano é onde proliferavam a pobreza e certa autonomia dos desqualificados sociais, bastante incômoda para as autoridades. Era justamente este o espaço social das mulheres pobres, livres, forras e escravizadas. Circulavam pelas fontes públicas, tanques, lavadouros, pontes, ruas e praças da cidade, onde era jogado o lixo das casas e o mato crescia a ponto de ocultar escravizados fugidos: o seu espaço social era justamente o ponto de interseção onde se alternavam e se sobrepunham as áreas de convívio das vizinhanças e dos forasteiros; a do fisco municipal e a do pequeno comércio clandestino; as margens da escravidão e do trabalho livre, o espaço do trabalho doméstico e o de sua extensão ou comercialização pelas ruas…

(Maria Odila Leite da Silva Dias. “Mulheres sem história”. In: Revista de História, 1983. Adaptado.)

Ao tratar de São Paulo do século XVIII, o excerto estabelece um paralelo entre a condição das mulheres no espaço urbano e

A) a situação de abandono das crianças pobres da colônia.

B) a constituição de um padrão ideal de família burguesa.

C) o prevalecimento dos interesses políticos da metrópole.

D) a área de indefinição social, política ou econômica.

E) os setores da sociedade defensores de propostas identitárias.

Analisando a questão:

A questão nos convida a estabelecer um paralelo entre a condição das mulheres e a cidade numa determinada característica da sociedade colonial. Embora apenas uma alternativa esteja correta, as demais alternativas, exceto a letra E, apresentadas promovem uma reflexão sobre diversos aspectos da vida cotidiana na época, como a situação das crianças pobres, a família burguesa, os interesses políticos da metrópole e as identidades sociais.

A alternativa D é a correta, pois o excerto de Maria Odila destaca que as mulheres pobres ocupavam um espaço urbano marcado pela precariedade, pela marginalização e pela ausência de direitos. Neste sentido, elas habitavam as áreas mais periféricas da cidade, onde a pobreza, a violência e a exploração eram constantes. Portanto, esse espaço era caracterizado por uma grande indefinição social, política e econômica, pois essas mulheres encontravam-se à margem da sociedade formal e não possuíam os mesmos direitos e oportunidades que os homens.

Por que as outras alternativas estão incorretas?

  • Alternativa A: Embora a situação das crianças pobres fosse também marcada pela precariedade, o foco do trecho é a condição das mulheres adultas.
  • Alternativa B: A constituição de um padrão ideal de família burguesa não se aplica à realidade das mulheres pobres, que viviam em condições muito diferentes.
  • Alternativa C: Os interesses políticos da metrópole, embora importantes, não explicam a situação específica das mulheres no espaço urbano.
  • Alternativa E: A noção de identidades sociais é contemporânea; isto é, diz respeito à sociedade atual. Desta forma, no século XVIII, as mulheres pobres não tinham a possibilidade de reivindicar seus direitos de forma organizada. A luta contra as diversas formas de opressão se dava de forma organizada em grupo mais heterogêneos.

Conclusão:

O excerto de Maria Odila nos revela a complexidade da experiência feminina no Brasil colonial. As mulheres pobres, livres, forras e escravizadas ocupavam um espaço urbano marcado pela exclusão e pela violência. De forma geral, a condição da mulher no Brasil Colonial era marcada pela subordinação e pela desigualdade. A economia, a urbanização e a composição étnica eram fatores que moldavam as oportunidades e os desafios enfrentados pelas mulheres na cidade. Assim, ao compreendermos essa realidade, podemos valorizar a luta dessas mulheres por melhores condições de vida e reconhecer sua importância na construção da história do Brasil.

Caso queira aprofundar seus conhecimentos, confira este artigo sobre outras perspectivas a respeito das mulheres no Brasil Colônia.

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