Maria Odília Teixeira foi a primeira médica negra do Brasil. Nascida em São Félix, na Bahia, no dia 5 de março de 1884, ela superou inúmeras barreiras para se formar na faculdade de medicina. Vamos analisar sua trajetória a partir desta questão que caiu no vestibular da UFSM, em 2023.
Maria Odília no vestibular (UFSM 2023)

Maria Odília Teixeira (imagem acima) nasceu na cidade baiana de São Félix do Paraguaçu, em 1884. Maria Odília era filha* de uma mulher que havia sido escravizada, formou-se em medicina em 1904, na Universidade da Bahia, em Salvador, sendo considerada uma das primeiras médicas negras do Brasil. Sobre o contexto e as características históricas da sociedade brasileira das primeiras décadas do século XX, considere as afirmativas a seguir.
I → Maria Odília Teixeira fez sua formação acadêmica em uma das primeiras faculdades de medicina do Brasil, a da Bahia, que, justamente com os cursos de Direito, eram responsáveis pela formação profissional de significativa parcela da elite brasileira desde o século XIX.
II → Ela frequentou um curso de graduação e seguiu uma carreira profissional que são de difícil acesso às mulheres negras no Brasil.
III → O resgate da história de Maria Odília Teixeira nos permite construir uma versão menos eurocêntrica da história do Brasil.
Está(ão) correta(s)
a) Apenas a I.
b) Apenas a II.
c) Apenas I e II.
d) Apenas I e III.
e) Apenas I, II e III.
Analisando a questão
A alternativa correta é a letra “E”. Por que Maria Odília era filha de um homem branco e uma mulher negra. Considerando as estruturas racistas do país, ainda mais ao pensarmos no início do século XX, ao se formar em medicina, desafiou as normas sociais e raciais de sua época. Em 1909, formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia. Portanto, resgatar sua história é fundamental para entender a História do Brasil pelo viés da História das mulheres negras.
Meninas e educação
Na década de 1880, período de nascimento e infância de Maria Odília, o acesso à educação era bastante restrito para as meninas. Mais limitado ainda para as meninas pobres e negras. Embora o acesso à educação primária fosse teoricamente garantido para todos, na prática, as meninas ou eram retiradas cedo da escola ou tinham a educação concentrada em afazeres domésticos. O acesso ao ensino secundário para as meninas era ainda mais difícil.
Prevalecia a visão patriarcal de que meninas deveriam ser ensinadas para exercer a maternidade e os cuidados domésticos.
A influência do catolicismo
Naquele contexto, a Igreja Católica influenciava expressivamente a organização social, inclusive a educação. Reforçava a noção de que às mulheres cabia a dedicação à vida doméstica e à maternidade. Em simultâneo, as escolas religiosas, que eram a principal opção para a educação feminina, focavam em ensinar prendas domésticas, religião e moral, em detrimento de disciplinas como matemática e ciências.
Disciplinas e currículo diferenciados
No final do século XIX, as meninas que conseguiam frequentar a escola eram submetidas a um currículo diferenciado, com ênfase em disciplinas consideradas “adequadas” ao seu “papel social”, como costura, bordado, culinária e música. Por outro lado, matemática, ciências e filosofia eram, muitas vezes, consideradas “masculinas” e inadequadas para as meninas, sendo excluídas do currículo feminino.
A trajetória de Maria Odília
Quando Maria Odília nasceu, a escravidão dava seus sinais de falência. Embora houvesse debates políticos sobre a inserção da população egressa do cativeiro na sociedade, incluindo propostas de distribuição de terra e facilitação do acesso à educação, ao final, a letra da Lei Áurea garantiu a liberdade, apenas.
Maria Odília se formou quando as mulheres sequer podiam votar. Ela foi a única mulher numa turma formada por 47 homens. Após a formatura, começou a atuar sob a tutela do pai ou do irmão mais velho. Depois, passou a atuar sozinha, tendo por clientela as mulheres, principalmente.
Em 1917, ela chegou a dar aulas na Faculdade de Medicina da Bahia, mas deixou a docência para cuidar do pai que estava doente. Aos 37 anos, se casou com Eusínio Lavigne com quem teve dois filhos. Depois do casamento, decidiu deixar a medicina para cuidar da família e dos filhos.
Pessoas negras na medicina brasileira hoje em dia
Embora não haja dados estatísticos atuais específicos sobre a presença de mulheres negras na medicina brasileira, sabe-se que são poucos os médicas negras. Segundo dados do Conselho Federal de Medicina e da USP, apenas 3% dos médicos no Brasil se declaram pretos. Portanto, a escassez de médicos negros e a falta de dados sobre as mulheres negras na medicina evidenciam que o acesso à formação médica ainda é um desafio para a população negra, mesmo com as políticas públicas de reparação histórica.
* A questão diz que Maria Odília era filha de uma mulher escravizada. No entanto, outras informações indicam que ela era neta de uma mulher escravizada.