Esse texto é um convite para conhecer a história de 3 mulheres fundamentais para o Brasil.

A história do Brasil é marcada por inúmeras transformações impulsionadas por mulheres, mas, por muito tempo, essas contribuições foram apagadas ou minimizadas pela narrativa historiográfica dominante, centrada em figuras masculinas. Seja na política, na cultura ou na resistência social, mulheres desafiaram estruturas opressoras e abriram caminhos revolucionários nos contextos históricos que viveram. A seguir, conheça as trajetórias de Dandara dos Palmares, Chiquinha Gonzaga e Bertha Lutz — exemplos de coragem, inovação e luta fundamentais para inspirar a nossa caminhada em defesa da consolidação de direitos.

Dandara dos Palmares: Liderança e resistência negra

Reconstruir a biografia de mulheres negras do período colonial é um desafio, dada a escassez de registros e o apagamento sistemático de suas histórias. Pouco se sabe sobre as origens de Dandara, se nasceu no Brasil ou na África. Mas seu legado como estrategista e guerreira no Quilombo dos Palmares é inquestionável. Ao lado de Zumbi, ela organizou a resistência contra o sistema escravista, mobilizando milhares de pessoas em um dos maiores territórios livres do período. Localizado na então província de Pernambuco (atual Alagoas), Palmares chegou a abrigar cerca de 30 mil habitantes, onde se praticava uma economia coletiva e a policultura de alimentos. Dandara não apenas lutou pela liberdade, mas também pela construção de uma sociedade alternativa, tornando-se um símbolo impagável da resistência negra e feminina.  Então, Dandara liderava mulheres na defesa do território e na organização política, desafiando a ideia de que a resistência era um papel exclusivamente masculino.

Chiquinha Gonzaga: A maestrina que revolucionou a música brasileira

Francisca Edwiges Neves Gonzaga, mais conhecida como Chiquinha Gonzaga (1847–1935), foi uma das figuras mais ousadas do século XIX. Compositora, pianista e a primeira maestrina do Brasil, ela desafiou as rígidas normas de gênero de sua época. Autora da primeira marchinha de carnaval, “Ô Abre Alas” (1899), Chiquinha democratizou a música popular e enfrentou preconceitos ao se divorciar, viver da arte e frequentar espaços dominados por homens. Filha de um militar branco e de uma mulher negra liberta, sua trajetória reflete a luta contra o racismo e o machismo. Em 1999, sua vida foi imortalizada na minissérie da Rede Globo, interpretada por Regina e Gabriela Duarte, levando sua história a milhões de brasileiros.  Além de ser a primeira maestrina do Brasil, ela compôs mais de 2 mil peças, incluindo óperas, polcas e choros, gêneros então dominados por homens.

Chiquinha Gonzaga

Bertha Lutz: A cientista que conquistou o voto feminino

No início do século XX, Bertha Lutz (1894–1976) emergiu como uma das principais vozes do feminismo brasileiro. Ela estudou biologia na Sorbonne (França). Ao voltar ao Brasil, tornou-se uma das primeiras mulheres a trabalhar no serviço público, no Museu Nacional. Bertha Lutz liderou a campanha pelo voto feminino, conquistado em 1932, e fundou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Quatro anos depois, em 1936, elegeu-se suplente de deputada federal e usou o cargo para propor licença-maternidade e igualdade salarial. Ao mesmo tempo, Bertha também atuou na elaboração de leis trabalhistas para mulheres e representou o Brasil em conferências internacionais, defendendo a igualdade de direitos. Sua luta mostrou que a ciência e a política eram campos possíveis e urgentes para a emancipação feminina. Vale destacar que sua atuação não foi uma unanimidade entre as mulheres. Por muitas vezes, sua atuação foi vista como elitista, considerando que era uma mulher que transitava pelo meio intelectual brasileiro da época.

Mulheres fazem história — e sempre fizeram

Portanto, Dandara, Chiquinha e Bertha representam grupos de mulheres advindos de classes sociais e contextos históricos diferentes. Dandara tornou-se um símbolo e inspiração para inúmeros movimentos sociais liderados por mulheres negras. Por sua vez, Chiquinha se separou, uma enorme ousadia para mulheres da sua época. Além disso, constriu uma carreira artística quando o ambiente musical era majoritariamente masculino. Por fim, Bertha Lutz, a despeito das contradições acerca das questões sociais apontadas por outras feministas, foi uma voz fundamental para a conquita de direitos políticos. É incontestável que essas três mulheres são fundamentais na escrita e leitura da História do Brasil, em razão de suas lutas e talentos. Seus legados comprovam que a história não é feita apenas de grandes nomes masculinos, mas também de mulheres que ousaram desafiar seu tempo.  Cada qual com sua atuação, contribuiu para reescrever a história brasileira. Recuperar essas trajetórias não é apenas um ato de justiça histórica, mas um lembrete de que a transformação social depende do reconhecimento e da valorização de todas as vozes.

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