A questão da Educação e Direitos das Mulheres no Século XVIII foi objeto de avaliação no Enem 2024. A questão número 58 do Exame trouxe um trecho de Mary Wollstonecraft objetivando avaliar os conhecimentos dos estudantes a respeito da História das Mulheres.

Então, vamos a análise da questão?

ENEM 2024 – QUESTÃO 58

“Atribuição a causa desse florescimento estéril a um sistema de educação falso, extraído de livros sobre o assunto escrito por homens que, ao considerar as mulheres mais como fêmeas do que como criaturas humanas, estão mais ansiosos em confronto-las damas sedutoras do que esposas afetuosas e mães racionais. O entendimento do sexo feminino tem sido distorcido por essa homenagem ilusória que as mulheres civilizadas do nosso século, com raras abordagens, ansiosamente pensam inspirar amor, quando deveriam nutrir uma ambição mais nobre e exige respeito por suas capacidades e virtudes.”

WOLLSTONECRAFT, M. Reivindicação dos direitos da mulher. São Paulo: Boitempo, 2016.

Nesse texto, escrito no século XVIII, a autora reivindica para as mulheres a:

a) recuperação de participação sua política.
b) equiparação de ganhos salariais.
c) valorização do seu papel social.
d) distinção de papéis biológicos.
e) ocupação de cargas públicas.

Educação e direitos das mulheres

No trecho selecionado, a autora critica o sistema educacional de sua época e o papel que a sociedade patriarcal atribuía às mulheres. A seguir, vamos analisar o conteúdo da questão e as ideias de Wollstonecraft, contextualizando sua importância histórica e explorando o significado de sua crítica no século XVIII. 

Neste cenário, a autora critica a educação que esperava que as mulheres servissem os homens, ao invés de estimular a sociedade a respeitá-las por suas capacidades e virtudes. Mary Wollstonecraft, argumenta que as mulheres deveriam ser valorizadas como seres racionais e capazes, e não apenas por suas funções tradicionais de esposas e mães. Dessa maneira, Wollstonecraft, reivindica que a sociedade reconheça o valor das mulheres num sentido amplo, respeitando o papel social que podem exercer com base na sua humanidade. Então, a resposta correta é a alternativa “C”.

Compreendendo o contexto

Naquele contexto, a sociedade europeia era altamente patriarcal e as mulheres eram limitadas ao ambiente doméstico, sem relevância no espaço público. Suas principais funções eram limitadas à maternidade e ao gerenciamento da casa. Dessa forma, existia uma cultura social que esperava que as mulheres fossem mães amorosas e esposas submissas. Portanto, limitadas à esfera doméstica, era raro que as mulheres recebessem uma educação formal. Quando tinha acesso a alguma educação formal, tratava-se de uma educação focada em habilidades que as tornariam atraentes aos olhos masculinos, como música, dança e etiqueta. Ou seja, ainda se tratava de uma educação que destinava as mulheres à condição servil. 

É oportuno mencionar que Mary Wollstonecraft (1759-1797) aprendeu a ler sozinha, se tornando uma escritora e filósofa que registrou acontecimentos históricos do seu tempo. Wollstonecraft se motivou a partir do incomodo diante da falta de oportunidades de educação e opções de trabalho para as mulheres. Deste modo, sua obra reflete os desafios que enfrentou na sociedade inglesa e a privação de oportunidades que as mulheres sofriam. Assim, em 1792, ela publicou “A Reivindicação dos Direitos da Mulher”, onde argumentava que as mulheres deveriam ser educadas como seres racionais, preparadas para atuar não apenas como esposas e mães, mas como cidadãs com voz ativa na sociedade. Wollstonecraft acreditava que a educação era a chave para a emancipação feminina. Para elas, as mulheres deveriam ser respeitadas por suas habilidades e capacidade intelectual, não por seus atributos físicos.

Diferenças baseadas no sexo biológico

No trecho da questão, a filósofa criticou o fato dos homens desconsiderarem a humanidade das mulheres, enxergando-as apenas como fêmeas. Sendo assim, sela defendia que as mulheres não deveriam ser definidas apenas por suas funções biológicas e pelos papéis de esposa e mãe, atribuídos em razão disso. Portanto, ela acreditava que, ao focar exclusivamente nesses papéis, a sociedade distorcia o verdadeiro valor das mulheres, perpetuando um sistema de desigualdade.

Neste sentido, Wollstonecraft argumentou que o papel social das mulheres deveria ir além da função biológica. De tal forma, a maternidade era apenas uma das dimensões da vida feminina, mas não a única. Ela argumentava que mulheres também poderiam contribuir intelectualmente e moralmente para a sociedade, se tivessem a oportunidade de desenvolver tais capacidades por meio da educação. 

Wollstonecraft e a defesa por educação e direitos das mulheres

Considerando aquele contexto histórico, pode-se considerar que Wollstonecraft foi uma pioneira porque desafiou publicamente a visão patriarcal de que as mulheres deveriam ser subordinadas aos homens. Por óbvio, suas ideias não foram muito bem aceitas por seus contemporâneos. Sendo assim, sua fala está inserida como para o feminismo moderno, principalmente, ao longo do século XIX com o avanço dos movimentos sufragistas.  

Atualmente, é praticamente um consenso de que a questão da educação feminina é essencial para o desenvolvimento social e econômico. No entanto, ainda existem sociedades onde as mulheres são privadas desse direito. Mesmo em países onde a educação é acessível, ainda persistem desafios quanto à igualdade ao respeito ao papel social das mulheres. A título de exemplo, de acordo com a ONU, uma a cada dez meninas deixa de ir à escola quando está menstruada, em razão da “pobreza menstrual”. Assim, a obra de Wollstonecraft continua relevante porque meninas e meninos têm oportunidades distintas de estudo. Ao mesmo tempo, a situação se prolonga na vida adulta, considerando a defasagem salarial entre homens e mulheres. 

A Atualidade de Wollstonecraft

Para concluir, esta não foi a única questão sobre a História das Mulheres no ENEM 2024 o que demonstra a relevância do assunto para a formação dos estudantes. Em específico sobre a questão acerca do pensamento de Wollstonecraft é plausível que se estimule os estudantes à reflexão acerca das desigualdades entre homens e mulheres. É ainda mais pertinente em tempos de negação das diferenças entre homens e mulheres pautadas no sexo biológico. Sendo assim, esse tipo de questão coloca em debate a importância de revisitar o conhecimento produzido por mulheres com – consciência de classe sexual – sobre a condição feminina. 

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