As mães da praça de maio foram tema da avaliação de Ciências Humanas, no Enem 2024. Ao longo da história, as mulheres se lançaram na linha de frente defendendo a justiça. Por isso, o protagonismo das Mães da Praça de Maio é um exemplo. Assim, a questão 71 trouxe um fragmento de texto emocionante objetivando que o estudante reconhecesse nele um aspecto de violação de direitos, tão comum em regimes de exceção. Então, vamos à questão?!
Questão 71: As mães da praça de maio (Enem / 2024)
Era uma vez um país, uma cidade, uma praça, algumas mães… Las Madres de Plaza de Mayo! Silenciosas, com lenços brancos na cabeça, rondavam a Praça de Maio. Incansáveis, caminharam por dias, meses, anos. Foram chamadas de loucas. Em silêncio, criaram um fato político, escancararam as entranhas da repressão, desafiaram o aparato militar e suas dores ecoaram pelo mundo. Como observou Oliveira, “à luz do dia, sob as janelas do ditador, sob chuva, sob sol, no silêncio entrecortado de gritos, faziam ouvir como que a alucinação de uma litania, que ecoou no país, na América Latina e além-mar”. Era impossível ignorá-las, estavam lá, sempre em silêncio, mas estavam lá.
GONÇALVES, R. De antigas e novas loucas: Madres e Mães de Maio contra a violência de Estado. Lutas sociais, n. 29, jul-dez. 2012.
Qual problema de âmbito nacional argentino o movimento social mencionado expôs ao mundo?
A. Violação dos direitos humanos.
B. Insegurança da juventude periférica.
C. Naturalização da violência doméstica.
D. Ampliação das desigualdades sociais.
E. Relativização dos princípios democráticos.
Análise da questão
Como dito na introdução, a letra “A” é a alternativa correta. Por mais que as demais alternativas apresentem problemas reais da sociedade argentina no contexto da ditadura, elas estão incorretas porque não representam o objetivo do movimento das Mães da Praça de Maio.
A insegurança da juventude periférica (B) não era a principal preocupação das mães, que buscavam seus filhos desaparecidos, geralmente jovens engajados politicamente. A naturalização da violência doméstica (C), era (e continua sendo) um problema grave, mas, não se relaciona diretamente com a luta das mães contra a repressão estatal. Por conseguinte, a ampliação das desigualdades sociais (D) não era o alvo principal daquelas mulheres, pois, elas estavam motivadas em denunciar a situação de seus filhos. Por fim, a relativização dos princípios democráticos (E) não era o foco de denúncia daquelas mães.
As ditaduras na América Latina
Ao longo da segunda metade do século XX, com a Guerra Fria e a consequente polarização ideológica entre Estados Unidos e União Soviética, o clima de tensão e instabilidade se aprofundou na América Latina. Neste sentido, a ameaça do comunismo serviu como justificativa para golpes militares e a instauração de regimes autoritários em diversos países, incluindo Brasil, Chile, Uruguai e Argentina. Por outro lado, vale lembrar que as democracias nestes países já era bastante fragilizada.
Portanto, essas ditaduras, apoiadas e incentivadas pelos EUA, implementaram políticas de repressão e perseguição política, com o objetivo de silenciar qualquer oposição. Sendo assim, prisões arbitrárias, tortura, desaparecimentos forçados e assassinatos se tornaram práticas comuns, instaurando um clima de terror e medo entre aqueles que defendiam um Estado de Direito. Se houve segmentos da sociedade contrários e que se opuseram às ditaduras, houve, na mesma medida, aqueles que apoiaram, a exemplo de empresários e segmentos da Igreja Católica.
A ditadura argentina e o nascimento de um movimento
Na Argentina, o golpe militar de 1976 inaugurou um período de extrema violência, liderado pelo general Jorge Rafael Videla. O general instaurou um sistema repressivo com vistas a coibir movimentos dissidentes. Assim, inúmeros estudantes, intelectuais e ativistas políticos sofreram sequestros, torturas e assassinatos.
Neste cenário, um grupo de mães, começou a se reunir na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, sede do governo argentino. Elas buscavam informações sobre o paradeiro de seus filhos e exigiam justiça. Inicialmente, eram apenas 14 mães. Entretanto, com o tempo, o movimento cresceu, unindo mulheres de diferentes origens sociais e idades, todas com um objetivo em comum: encontrar seus filhos e alcançar a justiça.
A luta por verdade e justiça
As Mães da Praça de Maio enfrentaram a repressão do regime militar com coragem e determinação. Sem armas, elas se utilizaram de estratégias pacíficas de resistência, como as rondas silenciosas ao redor da Pirâmide de Maio, carregando fotos de seus filhos desaparecidos e exigindo respostas do governo.
Com o tempo, as Mães da Praça de Maio se tornaram um símbolo da resistência contra a ditadura argentina. Desta forma, elas se tornaram um exemplo para outros movimentos sociais na América Latina e no mundo. Então, o protagonismo das Mães da Praça de Maio contribuiu para a queda da ditadura argentina em 1983 e para a abertura de processos judiciais contra os responsáveis pelos crimes da “Guerra Suja”. Portanto, elas desempenharam um papel fundamental na recuperação da memória e na luta pelos direitos humanos na Argentina e na América Latina.
O legado das Mães da Praça de Maio
O legado das Mães da Praça de Maio transcende a Argentina porque elas inspiraram a criação de outros movimentos de familiares de desaparecidos políticos em diversos países da América Latina. As Mães da Praça de Maio nos ensinam sobre a importância da luta por justiça, da defesa dos direitos humanos e da preservação da memória de seus filhos. Desta maneira, o movimento das Mães da Praça de Maio se expandiu para além da busca pelos desaparecidos. Elas se tornaram uma voz ativa na luta por justiça social, igualdade e democracia na Argentina. Tais mulheres atuam em áreas como educação, saúde e direitos humanos, denunciando a pobreza, a desigualdade social e a violência contra as mulheres. Afinal, atingir filhos é, também, atingir suas mães.
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